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O Ar é o Oxigênio?

Em meados de 1780 e 1790 aconteceu uma disputa científica a respeito da descoberta do oxigênio, que envolvia os dois grandes cientistas Joseph Priestley, um teólogo e filósofo natural inglês, e Antoine Lavoisier, um químico francês.

Joseph Priestley, além de ter sido filósofo, também foi um pastor inglês que nasceu em 24 de março de 1733, em Birstall, no Reino Unido. Além disso, era o mais velho dos irmãos e devido às precárias situações financeiras de seus pais, foi enviado para viver com seu avô, embora cinco anos depois, acabou voltando para casa novamente devido ao falecimento de sua genitora. Entretanto, após seu pai se casar novamente, Joseph passa a morar com seus tios, que possuíam uma excelente condição financeira.

Devido a isso, lhe foi oferecida uma ótima educação. Dessa maneira, já aos seus quatro anos de idade ele já conseguia recitar todas as 107 perguntas e respostas do Breve Catecismo de Westminster, um catecismo resumido formulado pelos teólogos ingleses e escoceses da Assembleia de Westminster. Porém, em 1749, em seus 16 anos, acabou contraindo uma doença desconhecida que ameaçava o colocar em leito de morte, porém, por ser Calvinista, acreditou que, caso se convertesse, se curaria e sairia vivo, uma vez que seria o “escolhido de deus”. Mesmo assim, depois de um longo tempo lidando com a doença e com sua fé abalada, desacreditou da religião e começou a aceitar o Universalismo, além de, depois de meses, ter melhorado e continuado sua vida. Em torno de 1754 e 1755, um parente o convidou para trabalhar em Lisboa, o que o motivou a estudar francês, italiano, alemão, árabe e caldeu, além de ter sido apresentado à matemática avançada, a filosofia natural e lógica através de Isaac Watts e também à metafísica por John Locke.

Figura 1: J. Joseph Priestley e Antoine Lavoisier. Fonte: Britannica, 2024.

Já entre 1761 e 1767, de volta à Inglaterra, Joseph Priestley morou em Warrington, assumindo um cargo como professor de línguas modernas e de retórica na Academia de Dissidentes da cidade, apesar de preferir lecionar matemática e filosofia natural. Dentro desse ambiente, se interessou bastante pelo tópico de eletricidade e escreveu um livro, de 700 páginas, que abordasse sobre as teorias da eletricidade, até o ano de 1766. Vale ressaltar que esse material foi usado como base de estudo para grandes mentes da elétrica, como Maxwell, Coulomb, Faraday e Volta.

Em 1773, se mudou para Calne. Foi lá onde ele teve contato com a química de fato, e é onde ele teve as ideias que levariam à famosa “revolução da química”, que ocorreu no século XVIII. Foi lá também que ele escreveu e publicou o livro Experimentos e observações em Diferentes tipos de Ar.

Figura 2: EXPERIMENTS AND OBSERVATIONS. fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:PriestleyExperimentsAir.png.

Com esse livro, Joseph quis provar uma variação da teoria do flogisto, que dizia que a combustão de um material acontecia por causa da liberação de uma substância chamada “flogisto”. 

Daí, em 1774, sem saber ainda o que era, ele conseguiu, num experimento, isolar o gás oxigênio, pela primeira vez. Ele caracterizou esse tal “ar” como melhor e mais leve para a respiração. 

Quem é esse Lavoisier? 

Lavoisier nasceu em 1743 e veio de uma família nobre francesa, berço de ouro total. Em 1754, quando 11 anos, foi estudar em Paris, onde ficou até se formar em direito, na faculdade de Direito de Paris em 1764, mas apesar de ser “Doutor” o que ele realmente queria era estudar Ciência como o pai já fazia. 

Em 1771, inventou de se casar com a aristocrata francesa, Marie-Anne Pierrette Paulze, ou Marie Lavoisier rsrs, que foi uma importante colaboradora para o seu trabalho. Ela ficou sendo responsável por traduzir muitos livros, que estavam em inglês e latim, para o francês, agilizando o trabalho de Lavoisier. Além disso, ajudou a ilustrar as mais importantes experiências feitas por seu marido. 

Como Lavoisier tinha uma condição financeira melhor que Priestley, desde cedo teve acesso aos melhores laboratórios e aos melhores equipamentos, o que lhe permitiu conduzir seus estudos sobre combustão de uma maneira quantitativa (A Ciência é cara). Após vários experimentos realizando muitas medições na balança, pôde concluir que quando um metal “ardia”, esse metal ganhava massa ao invés de perder! 

Apesar dessa observação ser contrária a teoria do flogisto, que Priestley defendia, Lavoisier não sabia explicar ainda o porquê disso. Então, em 1776, ele admitiu por correspondência, que possuía mais confiança nas ideias de Priestley do que em suas próprias observações. (Interessante, não é?)

E como eles se conheceram? 

Em 1779 rolou um evento na França onde muitos cientistas da época se reuniram, daí em uma roda de conversa em que Lavoisier também estava, Priestley comentou que havia “encontrado um novo ar”. Ar esse que permite as coisas “arderem”, ou queimarem. 

Mas e daí? 

Apesar de Lavoisier ter ficado um pouco inseguro sobre as suas descobertas no passado, aquele encontro o fez repensar as coisas. Já em 1783, depois de alguns anos com essas ideias matutando em sua cabeça, ele decidiu deixar a ideia do Flogisto meio de lado e passou a se referir ao “novo ar” ou “ar eminentemente respirável” como Princípio Oxigênio.

Chegando então, a rejeitar o flogisto completamente e  lançar, em 1789 o “tratado elementar da química”. 

Agora temos de um lado Priestley chutando cachorro morto e defendendo o Flogisto, que muitos já haviam descartado, e do outro temos Lavoisier nos mostrando como seria o futuro da Química ao lançar o livro que revolucionou a área.

Figura 2: ANNALES DE CHIMIE. fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Antoine_Lavoisier#/media/Ficheiro:Annales_de_Chimie_Titlepage_Volume_1.jpg.

Infelizmente, eles não puderam ir a fundo nestas discordâncias, já que a vida de Lavoisier foi bem curta. Como ele era casado com uma aristocrata, durante a Revolução Francesa, ou melhor, em 1793, ele foi decapitado por ter ligações com a coroa francesa. Agora vocês se lembraram dele, não é? 

Enquanto isso, Priestley morreu em paz no ano de 1804 com um legado importantíssimo para as áreas da filosofia natural, teologia, política e educação. Mas… foi Lavoisier quem disse: 

Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma

E, com essa afirmação, se confirma que o flogisto não existe. A combustão é uma reação química de transformação, onde nada se perde, tudo se transforma!

Fontes:

OLIVEIRA, J. A.; MENDONÇA, P. C. C. Proposta pedagógica para o ensino explícito de argumentação: o caso da controvérsia histórica do gás oxigênio. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 266-274, ago. 2019. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.21577/0104-8899.20160150>. Acesso em: 17 ago. 2023.

https://cultura.secular.com.br/13-mai2009/oxigenio.html

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