Lise Meitner nasceu no dia 7 de novembro de 1878, em Viena, Áustria. Completou o ensino básico em 1892, mas só ingressou na Universidade de Viena em 1901, devido à proibição da presença feminina nas instituições de ensino superior.
Durante seu período na universidade, cursou disciplinas relacionadas à Física, onde foi aluna de Ludwig Boltzmann. Após a sua graduação, em 1907, migrou para Berlim, onde conheceu seu colega químico, Otto Hahn. Desde então, uma parceria se estabeleceu entre Meitner que era considerada uma jovem tímida e Hahn, na época um jovem de boa aparência e com facilidade no trato social. Como escreve Bodanis (2001), Meitner era brilhante e Hahn, um bom químico, que entendeu rápido que a parceria com ela lhe traria muitas vantagens.
Durante a primeira guerra mundial (1914-1918), Meitner, que fazia trabalho voluntário nos hospitais e Hahn, que estava no serviço militar, continuaram o contato através de cartas. Depois da guerra, eles foram trabalhar em laboratórios diferentes. Meitner tornou-se chefe da divisão de física teórica do Instituto de Química do Kaiser Wilhelm.
É importante salientar que até aquele momento, segundo Bodanis (2001), Meitner era insegura em relação à sua capacidade intelectual, prova disso, é que, apesar de ter preenchido as últimas lacunas da tabela periódica sozinha, ela fez questão de que Otto Hahn fosse colocado como primeiro autor do artigo.
No instituto, Meitner voltou a trabalhar com as propriedades do núcleo ao átomo, a partir de 1934, quando Fermi, nesse mesmo ano, mostrou que: “(…) o nêutron poderia oferecer uma ferramenta de sondagem ideal no interior do núcleo” (BODANIS, 2001, p.113).
A partir de 1934, Lise e Otto voltaram a trabalhar juntos, tentando produzir artificialmente um elemento químico (com número atômico maior do que 92), através do bombardeio de nêutrons no núcleo do átomo de urânio. Hitler havia subido ao poder na Alemanha em 1933 e o antissemistimo não deixou nenhum espaço incólume. Lise foi demitida da Universidade de Berlim, mas continuou trabalhando para o Instituto que tinha um financiamento próprio.
Em 1938, com a anexação da Áustria ??, Meitner se torna cidadã alemã, mas os colegas do Instituto, abertamenta e secretamente (no caso de Otto Hahn), pediram às autoridades do Instituto que Lise Meitner, por ser judia, fosse demitida. Lise precisou fugir para a Suécia, enquanto Otto continuou trabalhando na Alemanha. Não obstante, Hahn e Lise continuaram trocando cartas sobre a pesquisa, secretamente.
O resultado dessa pesquisa, que foi retomada em 1934, e mantida à distância a partir de 1938, por cartas, foi a fantástica descoberta da fissão nuclear – processo que ocorre descontroladamente nas bombas atômicas e “controladamente” nos reatores nucleares. A seguir, o trecho de uma carta de Lise Meitner a respeito do que sentia por estar “exilada” e sem qualquer suporte para suas pesquisas:
Não tenho aqui… nenhum cargo que me habilite a qualquer coisa. Tente imaginar como seria se … você tivesse uma sala em um Instituto que não fosse realmente sua, sem nenhuma ajuda, sem nenhum direto. (BODANIS, 2001,p.110).
Como escreve Bodanis (2001), Lise Meitner estava ali, na periferia de Estocolmo, com 60 anos de idade, sozinha, e nem mesmo falava o sueco. Em uma visita de um sobrinho, Lise compartilhou algumas inquietações sobre a pesquisa que estava realizando à distância com Otto Hahn. Tia e sobrinho, Robert Frisch, que também era físico, entenderam pela primeira vez como se dava o processo que veio a ser chamado de fissão:
O átomo estava aberto. Todos antes estavam errados. O caminho de entrada não era arremessar fragmentos contra ele com vigor cada vez maior… Não era necessário sequer a energia para que um átomo de urânio explodisse. Só colocar nêutrons extras suficientes lá dentro para dar a partida. Em seguida, ele começaria a sacudir, com violência cada vez maior, até que as forças fortes que o mantinham unido cedessem e a eletricidade interna fizesse os fragmentos se separar. Essa explosão se auto-alimentava. (BODANIS, 2001, p. 121)
Em 1944, ainda no regime nazista, Otto Hahn recebeu, sem Lise Meitner, o Prêmio Nobel pelo trabalho deles. Anos mais tarde, Lise foi recompensada pela comunidade científica, tendo o elemento 109, Meitnério (Mt) com o seu nome. Lise Meitner faleceu em 27 de outubro de 1968, aos 89 anos de idade.
Fontes:
BODANIS, David. E = mc2: uma biografia da equação que mudou o mundo e o que ela significa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
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