Lelia

Lélia Gonzalez

Lélia de Almeira Gonzales nasceu em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais,  no ano de 1935. Ela foi uma professora e estudiosa, conhecida por ser uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), do Olodum, do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e outros.

Com uma formação inicial nos bacharelados de História e Geografia, posteriormente, se tornou bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara (UERJ). Lélia Gonzales atuou como professora em escolas públicas do Rio de Janeiro, cidade para onde se mudou quando ainda era criança, aos sete anos de idade. Fez parte do quadro de docentes de importantes estabelecimentos de ensino superior, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e a Pontifícia Universidade Católica  (PUC-RJ). 

No Brasil, é considerada uma das pioneiras na disseminação do debate acadêmico que faz intersecção entre raça e gênero. Lélia Gonzalez deu importantes contribuições políticas e acadêmicas, tanto ao movimento negro em geral, como em sua vertente feminista. Nesse ponto é importante explicar o que significa o conceito interseccional:

O termo interseccionalidade é um conceito sociológico preocupado com as interações e marcadores sociais nas vidas das minorias. Através dele é possível enxergar que em nossa sociedade existem vários sistemas de opressão – as de raça ou etnia, classe social, capacidade física, localização geográfica, entre outras-, que relacionam-se entre si, se sobrepõem e demonstram que o racismo, o sexismo e as estruturas patriarcais são inseparáveis e tendem a discriminar e excluir indivíduos ou grupos de diferentes formas. (IGNACIO, 2020, p.1)

Sua produção acadêmica é diversificada, contendo desde traduções de livros  franceses à escrita de ensaios, livros e artigos. É interessante citar alguns destes textos para se ter noção da versatilidade da filósofa:

Tradução do francês do  II volume da coletânea Compêndio moderno de Filosofia (1968), e ensaios como: Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira (1983), A mulher negra no Brasil (1984), Por um Feminismo Afro-latino-Americano (1988), A categoria político-cultural de amefricanidade (1988), Gonzalez escreveu ainda para importantes artigos como: E a trabalhadora negra, cumé que fica? (1982), A questão negra no Brasil (Jornal Mulherio, 1981), A importância da organização da mulher negra no processo de transformação social (Jornal Raça e Classe. Cadernos Trabalhistas, 1988). (RIOS, s/d)

No que diz respeito a livros, devem ser citados: Lugar de Negro (1982), em coautoria com o sociólogo argentino Carlos Hasenbalg; Festas Populares no Brasil (1987) e Por um feminismo afro-latino-americano, livro organizado por Flávia Rios e Márcia Lima em 2020, partir de textos escritos por Gonzales entre 1970 e 1994 . A esse respeito, nada como ler um trecho do artigo de mesmo nome deste último livro da autora, publicano no Literafro, o portal da literatura afro-brasileira (2022):

Por tudo isso, o feminismo latino-americano perde muito da sua força ao abstrair um dado da realidade da maior importância: o caráter multirracial e pluricultural das sociedades dessa região. Lidar, por exemplo, com a divisão sexual do trabalho sem articulá-la com a correspondente em nível racial, é cair em uma espécie de racionalismo universal abstrato, típico de um discurso masculinizante e branco. Falar de opressão da mulher latino-americana é falar de uma generalidade que oculta, enfatiza, que tira de cena a dura realidade vivida por milhões de mulheres que pagam um preço muito caro pelo fato de não serem brancas. Concordamos plenamente com Jenny Bourne, quando afirma: “Eu vejo o antirracismo como algo que não está fora do Movimento de Mulheres senão como algo intrínseco aos melhores princípios feministas. (GONZALES, 2022).

Não poderíamos terminar esse breve relato das contribuições acadêmicas e sociais da militante e mulher preta que foi Lélia Gonzales, sem pontuar alguns pontos de sua vida pessoal.

Lélia teve uma vida difícil, veio de uma família de 18 irmãos. Antes de ingressar na Universidade trabalhou como empregada doméstica e de babá. Rios (s/d) afirma que a Lelia Gonzaga sempre destacou sua origem negra da parte de seu pai e  indígena, de sua mãe. A mudança para o Rio de Janeiro foi motivada pelo reconhecimento dos talentos futebolísticos de Jaime de Almeida, seu irmão que se tornou jogador do Flamengo.

Na vida adulta, apesar do reconhecimento acadêmico dentro e fora do Brasil, Lélia foi vítima de racismo e preconceito por parte da família de seu marido, Luiz Carlos Gonzalez. Nas palavras da autora:

No Brasil é aceitável que um homem branco tenha um caso com uma mulher negra, mas casamento é outro assunto. Quando eles descobriram que nos casamos, ficaram furiosos. Me chamaram de preta suja. Era isso que eu tinha me tornado aos olhos deles, apesar da minha educação, apesar da minha posição. (Gonzalez, 2020, p. 283-4 apud  Rios, s/d, p.1 ).

Fontes:

RIOS, Flávia. Lélia Gonzalez (1935-1994). Enciclopédia Mulheres na Filosofia. s/d. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/lelia-gonzalez/. Acesso em: 10 de maio de 2023.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Literafro, o portal da literatura afro-brasileira. 20 de julho de 2022.

Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/ensaistas/24-textos-das-autoras/1445-lelia-gonzalez-por-um-feminismo-afro-latino-americano. Acesso em: 10 de maio de 2023.

IGNACIO, Júlia. O que é interseccionalidade? Politize! 20 de novembro de 2020. Disponível em: https://www.politize.com.br/interseccionalidade-o-que-e/. Acesso em: 10 de maio de 2023.

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